quinta-feira, 10 de junho de 2010

O ufanismo que nos assola em tempos de Copa do Mundo

Começa hoje mais uma Copa do Mundo. Uma importante oportunidade que o mundo tem de conhecer um pouco mais a fundo a cultura, a alegria e as belezas sul-africanas.
Para os amantes do futebol tudo pára agora, como diz o slogan da ESPN Brasil. Para os veículos de comunicação a oportunidade de aumentar o faturamento é excelente . No caso da Rede Globo, que investe um monte, é o momento de faturar 5 montes de dinheiro.

Nesse embalo os veículos sabem que a conquista da audiência passa pela conquista da emoção e dos corações brasileiros. Produtos, serviços, canais de tv e rádio, jornais e até o pipoqueiro da esquina vestem-se de verde e amarelo e se transformam em "brasileiros com muito orgulho".

Uma pena que esse orgulho e senso nacionalista desaparecem por aqui quando mais se precisam deles, seja no trânsito, na empresa ou nos compromissos sociais e éticos que todos temos com o país. Essa crítica não é nova e fica até um pouco chata nesses momentos. Não quero ser chato nem cortar o barato daqueles que pintam o rosto e fazem preces para que nossos artilheiros façam bonito.

Só acho importante lembrar que o que chamamos de "Brasil" não passa de uma equipe de futebol muito, mas muito bem remunerada para "representar" o país nesse momento. E que é capitaneada pela CBF, que faturou somente nos últimos dias US$4 milhões. E que conta também os humildes patrocínios de VIVO, TAM, Gillette, Ambev, Itau e Nestlé.

Ou seja, toda a emoção carreada pela torcida desemboca nesses valores pagos pelos patrocinadores aos veículos e à CBF. Então fica assim: nós "brasileiros com muito orgulho" entramos com a pipoca, as tintas verde a amarelo na cara, as tvs de LCD e o dinheiro que pagamos aos produtos patrocinadores (pois o valor da comunicação está embutida nos produtos. E a CBF entra com o número da conta bancária. Bacana não?

Eu sou brasileiro com muito orgulho, mas não confundo o orgulho que tenho pelo país com o de torcer por um time de futebol que se veste de amarelo.
Prá isso, prefiro o meu Palmeiras, que é verde e não me faz confundir paixão com ufanismo. Os compromissos do liberalismo são com os valores humanos em geral, com a tradição crítica, respeito à liberdade de expressão e de crença e pela independência do indivíduo diante de qualquer Estado ou Nação. Isso sim tem muito, mas muito valor. Já para os negociantes do esporte, valores são representados por cifras financeiras tão somente.
Minha sugestão é, portanto, de torcermos com alegria, mas com o desprendimento necessário diante do ufanismo que assola em especial aos interessados na grana que tudo isso gera.