terça-feira, 12 de outubro de 2010

PT e PSDB: semelhanças




A esquerda marxista, coletivista e estatista tem ojeriza por tudo o que não seja Estado e Governo. 

Fica claro que essa "esquerda" (que ama autoproclamar-se assim, ignorando que essa dicotomia já está mais do que furada, e como se o termo lhes conferisse virtude) não está preocupada com o desenvolvimento do país. Está preocupada com o poder e com a formação de uma hegemonia, nos moldes das teses gramscianas.
É inegável admitir os avanços do governo Lula.
Mas uma análise séria, como é de se esperar de jornalistas e acadêmicos, não pode prescindir da tese de que Lula  deu continuidade às mudanças feitas por FHC. E de que ele colheu e deliciou-se com os frutos colhidos graças às mudanças no governo anterior.
Somente no ano passado Guido Mantega teve R$ 42 bilhões no seu caixa oriundos de impostos do setor de telefonia, aquele que foi privatizado pelo governo anterior. Dá prá se fazer muita coisa com essa grana.   
Numa outra ótica, a privatização trouxe inclusão cidadã.Quem, no começo dos anos 90, poderia pensar que um dia um catador de papel pudesse ter seu aparelho celular?

Inegável também admitir que a política social do Bolsa Família (que é uma política liberal, diga-se de passagem)  iniciou-se no governo anterior. Eu achava inclusive o Bolsa Escola mais interessante, pois mantinha uma ligação com uma política de inclusão educacional. 


É inegável também admitir que PT e PSDB seguiram o mesmo caminho no campo econômico. A gestão  de Palloci no Ministério da Fazenda, por exemplo, foi mais austera e ortodoxa do que a de Pedro Malan. O atual Ministro Guido Mantega apenas toca o barco no rumo dado pelo seu antecessor, que saiu do Governo graças a (mais) um escândalo.
É inegável admitir também que o PT e o PSDB tem a mesma gênese, e quase a mesma origem. Os historiadores poderão marcar melhor do que eu as diferenças históricas entre um e outro partido, mas todos sabem que num dado momento, lá no final dos anos 70, eles se cruzaram.
As diferenças ideológicas entre esses partidos podem se dar da seguinte maneira: o PT quer ser definidamente socialista e o PSDB quer ser social-democrata. Esse caráter socialista do PT levou o partido à recusa na assinatura da Constituição de 1988, a mais democrática e socialista de nossa história.

Todos sabem que o PT foi contra  o Plano Real.
Entretanto,  Lula não teria obtido o sucesso que obteve sem a base sólida que a moeda estável por ele criticada anos atrás lhe proporcionou.
O mesmo PT criticou pesadamente a Lei de Responsabilidade Fiscal, que mudou a história dos municípios do Brasil. Todos se lembram como era a rotina de Prefeitos que assumiam suas prefeituras quebradas, gestão após gestão. Era uma festa. Isso acabou, prezados colegas. Essa mesma lei deu ao país um endividamento menor no setor público. Obviamente que o governo seguinte gozou dessa vantagem.
É inegável que o PT hoje tenha um perfil de partido social-democrata, no que tange à sua política econômica, embora permaneça com a velha fome de aumentar o tamanho do Estado, via novas estatais e aumento de concursos públicos.


Até nos defeitos  PT e PSDB são parecidos. O PSDB sabia que não conseguiria governar o pais sem uma aliança com os conservadores do PFL, hoje DEM.
Ora, Zé Dirceu soube muito bem copiar o modelo bem sucedido. Caiu a ficha para o PT, que só conquistou o poder quando construiu uma aliança com conservadores do PMDB.
O mesmo Sarney que deu suporte ao governo FHC dá hoje suporte ao governo Lula.
Portanto, sugiro deixarmos  as paixões e o romantismo esquerdista  de lado, e olharmos com um pouco mais de distanciamento nesse momento.

Estamos vivendo um segundo turno de eleições, onde as fofocas, o denuncismo e o moralismo religioso de segunda categoria tomam espaço e minam o debate profundo que poderíamos realizar sobre os verdadeiros problemas do país. 

Ambos os candidatos usam desses artifícios. Hoje, e mais uma vez,  PT e  PSDB se nivelam por baixo. Se os candidatos fossem do PMDB e do DEM, o comportamento não seria diferente. 
Por isso tudo exposto acima, uma análise serena  não pode levar a sério uma frase como a posta pelo jornalista Aloysio Biondi:

"Em cinco anos, o governo Fernando Henrique Cardoso não destruiu apenas a economia nacional, tornando-a dependente do exterior. Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional."

FHC não destruiu a economia nacional. Muito pelo contrário, criou as bases para o crescimento dado no governo posterior. Uma árvore só cresce e dá frutos depois que fortaleceu suas raízes.
Também não é verdade a romântica acusação de que FHC destruiu a Alma Nacional. Isso me parece texto de milico nacionalista. Historicamente sabemos que socialismo misturado ao nacionalismo deu na mais terrível experiência da história da humanidade. 

Infelizmente teses liberais são quase indefensáveis num país de pouquíssima tradição democrática e cultura política como o nosso.
Embora essas teses sejam, em todos os cantos do planeta, responsáveis pelos maiores e melhores índices de desenvolvimento humano, aqui ainda nos orgulhamos de sermos "donos" da Petrobrás (como se  nossos filhos precisassem de petróleo para viver). Governo tem que se dedicar com todas as suas forças em prover saúde, educação e segurança ao seu povo. 
O que passar disso é, no meu humilde ponto de vista,  dispensável.