sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A liberdade de culto e a falta de escrúpulo



Fui criado em uma igreja evangélica. Frequentei-a até o começo de minha juventude. Tenho respeito pelas igrejas cristãs sérias. Embora hoje tenha uma perspectiva mais crítica em relação ao gap que existe entre o discurso dos sacerdotes e o que acontece de fato nas estruturas religiosas, uma sociedade aberta tem compromisso com o direito e a liberdade de cada indivíduo exercer sua espiritualidade como quiser, desde que respeitando a lei e o Direito.

Entretanto, vivemos hoje uma escalada de aproveitadores religiosos, que invadem os veículos de comunicação com suas pregações agressivas e incisivas, especialmente quando se refere às questões das ofertas.

Um exemplo está no vídeo que copio aqui e que recebi por email. Trata-se de uma solicitação "especial" do pastor para uma causa específica do indivíduo. Tido como um dos mais importantes oradores evangélicos do momento, o Pastor do vídeo pede que seus fiéis creiam que, doando uma oferta "especial" de um aluguel poderão conseguir sua casa própria (se não conseguir, ele dirá que faltou fé ou desígnio de Deus era outro, e não há pois como reclamar ao PROCON). E por aí vai, com "planos" também para os que pagam casa própriae até os desempregados, que teriam de arranjar um jeito de ganhar uma grana e "oferecer à Obra".

Fico pensando em que ética esse tipo de pregação foi buscar inspiração. Outros, que se auto-intitulam Apóstolos, chegam a pedir oferta com metas já dadas na pregação: "Você pode fazer sua oferta de 30, 40, 100 até 500 reais, sem problema algum". Nessa fala está implícita a seguinte ideia: "Não me venha com mixaria de 10 ou 20 reais".

Essa "igrejas"compram horários televisos a preços que são verdadeiras fortunas. Milhões de reais são pagos por essas instituições à Band, Rede TV, CNT, Rede Massa e outros canais locais. E de fato, quem paga por esses milhões são os fiéis, indivíduos de boa fé que acreditam estar contribuindo para a obra de Deus. Eles estão contribuindo na verdade com o aumento do estoque de caviar dos diretores da Band, pagando o combustível do jatinho dos donos da CNT, e financiando as novelas da Record. É isso: o dinheiro "do Senhor" paga o cachê do artista da Record que faz papel de alienígena na novela. Paga o beijo na boca dos atores e o whisky do diretor no seu camarim.

Vejo nisso tudo um abuso da intimidade que o sacerdote tem pela sua posição em favor dele ou das instituições a que pertence. Com esse tipo de pregação e ética (de uma tal teologia da prosperidade) esse pessoal está construindo impérios (como é o caso da Record). Igrejas que pregam prosperidade à custa da grana dos humildes que não conseguem perceber criticamente que estão sendo enganados. A realidade é essa. Enganados "em nome do Senhor"!


2 comentários:

  1. Cada vez mais, fico indignada com essa questão das doações nas igrejas... a fé que "movia" montanhas antigamente, hoje, move a mediocridade dos fiéis. É de chorar!!!

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  2. Bem, o vídeo mostra por si só. Creio que a palavra exata é a indignação diante de tantas falcatruas que acontecem por ai em "Nome do Senhor". Infelizmente a falta de informação e formação faz com que pessoas sejam lesadas em nome da boa fé. Há também os ditos "instruídos" que se misturam no meio do povo fazendo-se de "humilde" para que a massa cresça como fermento desenfreado!

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