sábado, 13 de agosto de 2011

Meio século de vergonha

O muro de Berlim completa 50 anos de sua construção. Segundo a Enciclopédia Britânica, de 1949 a 1961, mais de 2,5 milhões de alemães do leste migraram para o Berlim ocidental, provocando na então Alemanha Oriental o receio de que a economia daquela região se inviabilizasse, uma vez que os migrantes eram jovens e adultos qualificados profissionalmente, professores e até intelectuais. Tiveram então a coerente (com sua doutrina de sociedade fechada) ideia de construir um muro para impedir o êxodo de alemães-orientais para o lado ocidental. Hoje, 50 anos após essa vergonhosa construção ter sido erigida, o mundo comenta e discute o que esse nefasto Muro significou para a humanidade.
No sítio da Deutsche-Welle, a principal rede de tv alemã, pesquei o seguinte:

"Ninguém tem a intenção de erguer um muro!". A frase foi dita na República Democrática Alemã (RDA – ou DDR na sigla em alemão), de regime comunista, pelo líder do SED, partido único, Walter Ulbricht, no dia 15 de julho de 1961, diante da imprensa internacional. Dois meses depois, o mesmo Ulbricht daria a ordem para dividir Berlim.

Quase 30 anos depois do início de sua construção, em 1961, o Muro de Berlim transformou-se no maior símbolo da Guerra Fria, que chegou ao Brasil e à América Latina de outras forma. Aqui, o receio de que guerrilhas revolucionárias motivadas pelo sucesso de Fidel Castro e Che Guevara em Cuba chegassem até aqui motivou o fechamento de governos democráticos em ditaduras militares. Essa reação totalitária de direita motivou a esquerda a bradar até hoje como se fossem verdadeiros defensores da liberdade e da democracia.
Ocorre que a "democracia" que eles querem é a do partido único, assim como havia na Alemanha Oriental. Lá o chamado SED vigiava fortemente os cidadãos e controlava a mídia. Curiosamente, a esquerda brasileira hoje quer fazer o mesmo. Proclamam ardentemente a necessidade de se ter uma "Ley de Medios" (eles utilizam o termo em espanhol para aludir ao que os Kirchner fizeram na Argentina) para reformar a mídia brasileira, que eles chamam de golpista. Assim como a Alemanha Oriental tinha na mídia ocidental um dos seus maiores inimigos, aqui nossos esquerdistas "democráticos" querem fazer o mesmo.

Também do site da DW:

"Os jornalistas ocidentais recebiam informações e material sobre temas delicados de informantes como o jornalista e cinegrafista Siegbert Schefke e o fotógrafo Aram Radomski. Ambos tinham quase 30 anos e ainda "tinham uma conta a acertar" com o regime quando começaram a fornecer informações a jornalistas ocidentais e a filmar o que não deveriam.

Como, por exemplo, em 9 de outubro de 1989 em Leipzig, quando os dois se deitaram sobre sujeira dos pombos dentro da torre de uma igreja e filmaram, secretamente, a manifestação de 70 mil cidadãos da Alemanha Oriental contra o regime do SED.

As filmagens foram entregues ao correspondente da Spiegel, Ulrich Schwarz, que as levou para o Ocidente. No dia seguinte, os alemães orientais puderam ver no Tagesschau [noticiário televisivo ocidental] que não foram 500 bêbados que provocaram arruaças no centro Leipzig, como fora anunciado pela mídia da RDA."


O tempo passa e as marcas da história vão se cristalizando, fornecendo documentos e relatos fartos sobre como as sociedades democráticas estão repletas de pseudo-amigos românticos - talvez até cheios de boa vontade - mas prontos a nos levar ao mais terrível dos sistemas. Temos o dever de tolerá-los, ou perderíamos nossas credenciais de sociedade democrática. Muito ao contrário do que eles mesmo demonstram: a incapacidade de tolerar críticas e contrários.



4 comentários:

  1. Grande Álvaro...sempre inteligente.

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  2. Quando estive na Alemanha em 1985, fui literalmente “barrada no baile”...afinal existia um muro ....e tristemente não tenho no meu passaporte o carimbo que tanto queria.... o porquê? .... Obviamente não me explicaram....ou eu,ignorante em alemão, não pude entender.
    Diferentemente do que ocorre no capitalismo, onde as desigualdades sociais são enormes, o socialismo teria que ser uma organização social no qual deveria haver uma distribuição mais equilibrada de riquezas e propriedades, com a finalidade de proporcionar a todos um modo de vida mais equilibrado. Infelizmente, naquela época não havia acesso a muita informação sobre a Alemanha Oriental e o que se sabia é que as coisas por lá não iam muito bem ..comentava-se sobre fracasso do regime.
    Em 2000, em outra viagem, consegui entrar ....e pude até mesmo ter acesso aos pedregulhos do Muro de Berlim recém quebrados.....oferecidos pelos vendedores locais que , mesmo com um péssimo inglês afirmavam .....somos muito mais livres ...mas nossa qualidade de vida piorou muito....por esse motivo ...me ajude e compre uma pedra por favor .....não comprei! Vingança? Não sei ...Utopia talvez.

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  3. Márcia, prezada:
    A sedução do socialismo se dá por essa romântica ideia de que esse sistema daria conta de resolver os problemas da humanidade: distribuição igualitária de riqueza e felicidades para todos. Essa ligação entre romantismo (filosófico) e o socialismo tem sido uma preocupação intelectual minha, e pretendo ainda escrever sobre isso. O grande problema dos sistemas socialistas é que, para dar conta dessa ilusão de igualdade e felicidade para todos, vai se controlando mídia, partidos políticos contrários, intelectualidades vão sendo emudecidas. Temos então, o contrário do que se imaginava inicialmente. Só isso pode explicar por exemplo, as dezenas de milhões de pessoas assassinadas por Stálin, ou as centenas assassinadas pelas próprias mãos de uma figura romântica e carismática como Che Guevara.

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  4. Acho que você comparou bem o socialismo com o romantismo afinal, não é raro encontrar pessoas em êxtase pela ideia de "liberdade, igualdade, fraternidade" (que apesar de parecer em alguns aspectos, nada tinha de socialista rsrs).
    O grande problema das paixões é que elas cegam e mais especificamente neste caso, pode emudecer e até emburrecer.
    Considerando que não é por que algo parece bom que realmente é, me causa certa estranheza notar que, sem exceção, todas as nações intituladas socialistas tiram a liberdade das pessoas e imprensa.
    Será que isso seria uma reação por medo de todos descobrirem que bom mesmo seria o socialismo utópico? Pena que, como o próprio nome diz, não vai acontecer rsrs...
    Ainda prefiro viver numa democracia capitalista onde cada dia aparece um novo escândalo.. um novo mensalão e mais dinheiro na cueca a ter de engolir que sou incapaz de pensar e ter minhas próprias opiniões sobre o que quer que seja ;)

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