terça-feira, 23 de agosto de 2011

Somos todos afrodescendentes (via blog Baixo Clero, de Fábio Silveira)



Por Marcos Cesar Gouvea

O povo brasileiro é afrodescendente, “eurodescendente” e “nativo-descendente”. É por isso que as cotas raciais em algumas universidades brasileiras têm suas bases assentadas numa mentira. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) tem manipulado números dos censos para fazer crer que os chamados “negros” constituem metade da população, incluindo nesse campo os auto-declarados “pardos”. FHC pediu para o IBGE dar a canetada. Lula obrigou o IBGE a fazê-lo e o instituto passou a ser um órgão aparelhado e militante da “causa negra”, trabalhando para criar, no Brasil, o mito de “uma raça negra” de um lado e uma “raça branca” de outro.
Ao colocar os “pardos” no campo “afrodescendente” o IBGE, de uma canetada só, por exemplo, extinguiu os “nativo – descendentes”. Como se os índios não tivessem deixado descendentes. A verdade é que não há etnia pura no Brasil. A população brasileira é afrodescendente, “euro-descendente” e “nativo-descendente”, miscigenada como nenhuma outra nação do planeta.
O absurdo das cotas raciais é imaginar que uma jovem, um jovem brasileiro, se tiver a cor da pele negra ou parda, automaticamente está em desvantagem na sociedade e não tem competitividade escolar. A História não mostra isso. Nas universidades, e outras instituições, as pessoas negras sempre estiveram presentes na proporção exata de sua representatividade na população, assim como os pardos e brancos. Tanto no estudo como no trabalho. O aumento artificial da “população negra” cria a ilusão de sub-representatividade e distorce as políticas públicas.
No último censo, o próprio povo brasileiro corrigiu IBGE, governo federal e outras instâncias públicas que disseminam a mentira da separação racial brasileira. Os números do último censo mostram a realidade, com a maioria dos “pardos” se autodeclarando “morenos escuros” ou “morenos claros”, miscigenados, descendentes de negros, índios e brancos. Assim como aqueles que se declaram brancos e mesmo os que se declaram negros. Nem IBGE, nem a mídia quiseram divulgar e analisar esses números.
As cotas raciais estão na contramão da realidade e servem de bandeira a militantes oportunistas que se arvoram de justiceiros da história. Como se crimes contra a humanidade, como a escravidão, pudessem ser minimizados. Qualquer discriminação pela cor da pele, como dizia Paulo Freire, é imoral. Jovens colocados diante de “tribunais raciais” para decidir se são afrodescendentes são constrangidos e submetidos a situação degradante. Cena que lembra os tribunais da Gestapo que “analisava” se as pessoas eram ou não judias.
A discriminação que sempre existiu no Brasil foi a econômica. Os pobres, de todas as cores, sempre foram os discriminados. Mesmo assim, cotas econômicas para escolas públicas também podem ser uma deformação, pois nem todos os pais que colocam os filhos em escolas particulares são ricos e nem todos que colocam os filhos em escolas públicas são pobres. E paliativos como esses escondem o verdadeiro problema que é o sucateamento do ensino fundamental, sem solução à vista, jogado “ao acaso dos prefeitos”.
Na Universidade Estadual de Londrina, antes de incluir alunos de forma artificial, as cotas excluem alunos aptos a ingressar na universidade. A UEL, em sete anos de cotas não produziu sequer um estudo comparativo entre os “incluídos e excluídos”. A UEL, em sete anos, produziu poucos estudos sobre as cotas. A composição artificial de 40% do alunado é mais um fator a ameaçar o nível acadêmico da instituição, que não deve continuar se pautando pelo populismo e pela demagogia de todas as cores. E é preciso retomar a lição: a cor da pele é irrelevante.

*Marcos Cesar Gouvea é jornalista em Londrina

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